Tiago Reis, para o Procel Info
Minas Gerais - Ser referência em eficiência energética e sustentabilidade. Foi com esse objetivo que a direção da Fundação Forluminas de Seguridade Social (Forluz), empresa que administra o Fundo de Pensão dos funcionários da Cemig, decidiu transformar o edifício Aureliano Chaves, sede da empresa, na primeira edificação comercial de alta eficiência em Minas Gerais. O prédio, localizado na região Centro-Sul de Belo Horizonte, teve iniciado o projeto no ano de 2007 com a conclusão das obras em 2014. Inicialmente avaliado como C em envoltória, D em iluminação e B em condicionamento de ar, foram necessárias várias alterações no projeto inicial para que o prédio, classificado como B, fosse avaliado como A. Para isso, foram incorporadas diversas técnicas e conceitos mais modernos para tornar o edifício uma construção sustentável.
Segundo a arquiteta Marisa Costa Lana, uma das responsáveis pela construção, para adequar a edificação ao padrão de alta eficiência foi contratada uma consultoria para avaliar os principais pontos que poderiam ser melhorados. Lana explica que as mudanças no projeto resultaram numa economia de energia de 19%. Entre as soluções adotadas para se conseguir o máximo de eficiência energética estão a instalação de um sistema fotovoltaico para geração de 3,5% do consumo de iluminação do prédio; iluminação eficiente, automatizada e com valorização do uso da luz natural; elevadores com frenagem regenerativa; fachadas com vidro insulado; persianas automatizadas; chillers eficientes; fachadas leste e oeste cegas e com colchão de ar entre o revestimento e a alvenaria, diminuindo o calor transmitido ao interior do edifício, o que reduz a demanda pelo uso do ar condicionado.
Edificação conseguiu reduzir em 19% o consumo de energia elétrica e 40% o consumo de água
Em relação ao consumo de água, Marisa Lana revela que foi alcançada uma redução de 40% na utilização de água potável. Para atingir esse patamar foram utilizados equipamentos eficientes, como: torneiras com redutores de vazão de água, reuso de água pluvial e águas cinzas dos chuveiros e lavatórios - utilizada para irrigação e descargas de vasos sanitários e mictórios.
Responsável pela consultoria que revisou o projeto do edifício Aureliano Chaves, a professora, Roberta Vieira Gonçalves de Souza, Chefe do Departamento de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo da UFMG e integrante da Rede de Eficiência Energética em Edificações, destaca que o principal ponto que precisou ser melhorado foi o sistema de iluminação, que na avaliação original foi classificado como D.
“A avaliação antes verificava a eficiência do sistema em relação à quantidade de luz (iluminância fornecida). Esta avaliação passou a considerar a densidade de potência instalada por área em função da atividade de cada ambiente. Este novo processo evita que um sistema, no qual há superdimensionamento, seja avaliado com uma classificação alta e evita que tenha que se calcular iluminância para todos os ambientes. Com a nova avaliação, a classificação de eficiência energética do edifício Aureliano Chaves melhorou significativamente”, explica Roberta.
Marisa Lana conta que mesmo com as mudanças no projeto original, não houve uma elevação significativa no custo total da obra. “Quanto ao custo, estima-se um aumento de cerca de 7% no custo do empreendimento com especificações de projeto e ações mitigadoras durante a obra”, afirma.
Com a adequação para o conceito de alto desempenho ambiental, o edifício sede da Forluz recebeu neste ano duas certificações de atestam a alta eficiência da edificação: o Selo LEED Gold e Selo Procel Edificações.
“Esse trabalho obteve bastante êxito, porque ele não só conseguiu obter uma etiqueta que classifica a eficiência do edifício, como também conseguiu atingir a nota máxima nos três sistemas avaliados, requisito para receber a outorga do Selo Procel Edificações. A certificação atesta que o edifício Aureliano Chaves é de fato uma edificação de alta eficiência”, ressalta Estefânia Neiva de Mello, arquiteta do Departamento de Projetos de Eficiência Energética da Eletrobras, órgão responsável pela outorga do Selo Procel Edificações.
Revisão do projetoResponsável pela consultoria que revisou o projeto do edifício Aureliano Chaves, a professora chefe do Departamento de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Roberta Vieira Gonçalves de Souza, conversou com a reportagem do
Procel Info sobre os desafios de trabalhar na adequação de uma edificação classificada como B em um edifício avaliado com o conceito A. A profissional tem doutorado em Conforto Ambiental e Iluminação Natural pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com atuação na área de arquitetura bioclimática, conforto ambiental e sustentabilidade. Ela também é integrante da Rede de Eficiência Energética em Edificações, grupo de 12 laboratórios, constituído pela Eletrobras e o Procel, presentes em universidades brasileiras que realizam pesquisas e capacitações sobre etiquetagem em edificações. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
Procel Info - Inicialmente, o edifício Aureliano Chaves havia sido avaliado como C em envoltória, D em iluminação e B em condicionamento de ar. Com a decisão da Forluz em tornar o edifício altamente eficiente, qual foi o desafio de transformar uma edificação classificada como B em um prédio triplo A, condição necessária para receber o Selo Procel Edificações?Roberta Vieira Gonçalves de Souza - Foi necessário rever os projetos e identificar oportunidades de melhoria de desempenho como um todo. No caso da envoltória, foi considerada de forma mais precisa o detalhamento das esquadrias e dos elementos de shadowbox das partes opacas por trás da fachada envidraçada. Esta consideração, juntamente com medições de absortância das superfícies de piso a serem efetivamente usados no projeto, a consideração da ventilação existente no piso utilizado sobre lajes de passagem e o uso de isolamento térmico nas áreas mas sensíveis às trocas térmicas pela cobertura, permitiram a melhoria de desempenho de C para A. No caso do sistema de condicionamento de ar houve troca de ventiladores que apresentavam uma relação entre potência e capacidade de ventilação acima do permitido pelo regulamento, o que permitiu o aumento na classificação de B para A.
”Uma inovação neste tipo de edificação no Brasil é a utilização do resfriamento noturno da estrutura“
Procel Info - E a eficiência energética de iluminação?Roberta Vieira Gonçalves de Souza - Já a análise da eficiência energética da iluminação foi a que teve mudanças mais significativas, uma vez que o procedimento de avaliação mudou significativamente entre a emissão da etiqueta original e a emissão da etiqueta revisada. A avaliação antes verificava a eficiência do sistema em relação à quantidade de luz. Esta avaliação passou a considerar a densidade de potência instalada por área em função da atividade de cada ambiente. Este novo processo, previsto no RTQ-C a partir de 2010, evita, de modo geral, que um sistema no qual há superdimensionamento seja avaliado com uma classificação alta e evita que se tenha que calcular iluminância para todos os ambientes o que dificulta o cálculo em ambientes nos quais não são usadas luminárias comerciais, para as quais por vezes é difícil a obtenção de dados fotométricos para os cálculos. Com a avaliação pelo novo processo e como o edifício Aureliano Chaves usou o conceito de iluminação de tarefa, que representa uma baixa densidade de potência instalada por área, a classificação de eficiência energética melhorou significativamente. O próximo passo foi atender aos pré-requisitos de contribuição da luz natural e de divisão das sessões de iluminação dos ambientes, o que levou a um trabalho em conjunto com a equipe de automação da edificação, já que houve necessidade de uma nova distribuição feita nos cartões que faziam a repetição do acionamento para re-setorização do sistema DALI, usado na automação da iluminação. Foi ainda contabilizada bonificação pelo uso de energia fotovoltaica, anteriormente não considerada na avaliação. Ressalta-se que a edificação não apenas recebeu o Selo Procel, mas obteve a máxima nota possível pelo sistema de etiquetagem.
Procel Info - Quais medidas foram adotadas para tornar o Edifício Aureliano Chaves mais eficiente? Roberta Vieira Gonçalves de Souza - Foi feito um investimento em sistemas de alto desempenho em condicionamento de ar e em lâmpadas e luminárias modernas. O prédio conta ainda com elevada economia de água com uso de dispositivos economizadores, reaproveitamento de águas pluviais e reaproveitamento da água dos condensadores. Há geração de energia fotovoltaica. A arquitetura conta com fachadas maiores voltadas para norte e sul, com proteção da fachada norte feita por um sistema de brises externos e com a utilização de vidros de alto desempenho. Uma inovação neste tipo de edificação no Brasil é a utilização do resfriamento noturno da estrutura. Todos estes fatores representam melhorias de desempenho e possuem custos agregados que devem gerar menor consumo ao longo do tempo. No caso das alterações feitas para a nova etiquetagem, o investimento para melhoria de desempenho se deveu basicamente ao isolamento das lajes do pavimento térreo e ao custo de homem-hora para re-setorização do sistema de iluminação. Eu não saberia dizer se houve investimento para substituição dos ventiladores do sistema de condicionamento de ar.
Procel Info - O edifício sede da Forluz foi a primeira grande edificação “verde' construída em Belo Horizonte. O reconhecimento obtido pelo prédio (LEED e Procel Edificações) pode incentivar outros empreendimentos da capital mineira a investirem em construções sustentáveis?Roberta Vieira Gonçalves de Souza - Esperamos que sim, edificações como esta são casos de sucesso que esperamos que sirvam de exemplo positivo para o mercado.
Procel Info - No Brasil, ainda existe a cultura de que investir em eficiência energética e sustentabilidade é caro. Esse tipo de pensamento chegou a ser uma barreira durante o processo de consultoria para tornar a edificação mais eficiente?Roberta Vieira Gonçalves de Souza - No caso da reavaliação da etiqueta, não. Mas haviam barreiras que tiveram que ser contornadas em função da edificação já estar em processo final de obra. Quando refizemos a avaliação, foram necessárias algumas alterações muito significativas. Essas mudanças poderiam resultar em retrabalho, o que procuramos ao máximo evitar.